sábado, 21 de fevereiro de 2009

Quer ver o Pai

Hoje a minha filha
Quer ver o pai.

Com tantos quereres fáceis
E disponíveis
Em papéis,
Em palavras,
Em partes iguais
De afetos regulares
Distribuídos entre paixões
E partituras apaixonadas,
Haveria de ser, ainda,
A música de minha filha
A música de prantear o pai.

Há passeios
E há parques
Repletos de domingos
Que se esticam dentro
De bolhas de sabão
Até estourar
Um pai de água com sabão
Na palma da mão
Direita de minha filha.

Hoje a minha filha
Não quer panturrilhas
Parecidas com as do pai.

Minha filha não quer
Ser parecida com o pai.
Minha filha quer puxar o pai

Pelas pernas
Debaixo de terras ternas
Como se puxam raízes
De batatas.

E hoje há um pedaço
De coisas no prato
Que não posso morder
Sem prejuízo
Dos meus dentes paternos.
Há um pedaço de carne
No rosto de minha filha.

Há carinhos póstumos
Guardados para a terra.

E hoje a minha filha
Quer ver o pai.

Um comentário:

Fabrício Basso disse...

Lindo. Tão forte. Tão triste.